As composições de Jorge Queiroz deixam-nos quase sempre perplexos, num jogo em que o observador é compulsivamente obrigado a entrar e a tomar decisões sobre a organização categórica das figuras. As reminiscências da interpretação académica são chamadas a intervir numa classificação oscilante em que o designado e o referente assumem constantes mutações. Por raras vezes, as formas são quase explícitas, mas nunca desembocam numa concessão ao definido, navegando antes à volta deste, em círculos que apontam, mas nunca revelam a forma com a objetividade de um mundo de dicionários. Esta pintura faz parte de uma experiência de leitura que vai em direções simultâneas quanto àquilo que se pode chamar reconhecimento na teoria da forma, e em que as três figuras principais parecem assentes num fundo de paisagem, onde os valores do claro-escuro se invertem do ponto de vista da perspetiva realista, que se torna mais um dos temas da sucessão de ambiguidades que mascara uma pintura que é, de resto, formal e classicamente equilibrada. A pequena cabeça em primeiro plano e o desenho do lápis, pelo contrário, pertencem ao mundo do nosso reconhecimento. [CAAC 2020]

Exposições individuais
2018: A Invenção do Sim e do Não, Galeria Zé dos Bois, Lisboa, Portugal

Exposições coletivas
2023: DARK SAFARI: Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, Museu do Côa e Centro Cultural de Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de Foz Côa, Portugal

Bibliografia
Sara & André, Manuel João Vieira, “Sentimento Safari” in DARK SAFARI. Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado. Lisboa: Imprensa Nacional–Casa da Moeda, 2023, cit. p. 17, rep. p. 25, 32, 53.