
“Sites and Services” é a designação de um programa de política de urbanização e habitação, que, tendo sido muito usado em vários países do Terceiro Mundo, foi importado para a África do Sul numa tentativa de lidar com os problemas resultantes da chegada em massa de gente do campo às cidades deste país. O programa visa melhorar as condições de vida nos bairros de barracas, providenciando a cada família em pedaço de terreno preparado com as infra-estruturas (services) mínimas, com sejam água corrente (uma torneira) e uma retrete simples de estrutura prefabricada. Geralmente são também preparados arruamentos alcatroados básicos, devidamente iluminados. Esta política prevê a distribuição de espaços para actividades comunais, como escolas e áreas de recriação, mas estas benfeitorias não são necessariamente fornecidas de imediato. A população é encorajada a comprar as parcelas de terreno e, por vezes, a construção pode ser subsidiada para permitir que se efectue o mais rapidamente possível. Todavia, na África do Sul esta última possibilidade raramente tem sido adoptada, o que geralmente conduz a população a ter de recorrer a modelos de construção habitacional muito primários.
Os terrenos (“sites”) são preparados em grandes quantidades e permanecem desocupados durante várias semanas, até as autoridades finalmente permitirem a sua ocupação pelos moradores a que estão destinados. O meu ponto de partida foi as imagens documentais que eu própria fiz destes “sites” desocupados. Atraiu-me a vastidão, a aridez, a qualidade áspera, severa e desolada nas paisagens reveladas nestas imagens fotográficas. Nelas entrevi a possibilidade de uma “arquitectura” diferente. Diferença essa que retrospectivamente evoca tanto a qualidade de vida como a “situação sul-africana”. Não foi minha intenção somente explorar a sugestão de “campo de concentração” que sai das imagens, mas antes a de expor as imensas contradições e complicações vividas neste país. Estou ciente de que estes “Sites and Services” significam esperança e melhoramento de qualidade de vida por muitos, e de que, como política de habitação, têm méritos que não podem deixar de ser tomados em conta. Tanto quanto este trabalho possa ser lido pelo Iado do seu coeficiente político, ele fica-se por revelar complexidades de vários níveis, sem pretender ser uma retórica, no sentido de uma “crítica” ao governo sul-africano. O trabalho é sobre a realidade sul-africana: pobreza, uniformidade, vastidão, produção em massa, industrialização, padronização, a ambiguidade das situações, etc.
As imagens e os materiais são incorporações directas a partir de uma série de diapositivos feitos em Khayelitsha, Cape Town, África do Sul e de mapas de planeamento dos “Sites and Services”, pertencentes à Câmara Municipal de Cape Town, assim como de informação literária.
Ângela Ferreira, 1993
Exposições
1992: The Annexe, South African National Gallery, Cape Town, África do Sul;
1993: Sites and Services, Galeria Módulo – Centro Difusor de Arte, Lisboa;
2000: Initiare, CCB, Lisboa;
2003: Continuare – Trabalhos da Coleção IAC, Bienal da Maia – Maia: Centro Comercial Venepor e Fórum da Maia;
2003: Ângela Ferreira. Em Sítio Algum, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa;
2008: Maison Tropicale, Museu Coleção Berardo, Lisboa;
2019: Ângela Ferreira. Pouco a Pouco, Centro Galego de Arte Contemporânea (CGAC), Santiago de Compostela, Espanha.