
De cariz marcadamente conceptual, os primeiros trabalhos de Fernando Calhau, realizados no final dos anos 60 e recorrendo sobretudo às dimensões disciplinares da fotografia e da pintura, apresentam uma especial recorrência serial e uma concentração no detalhe que os encaminham a uma analítica da visualidade pura, enquanto aproximação à monocromia. A repetição, a subtileza das cambiantes cromáticas e a exploração de pequenas variações na imagem, das formas aos temas, representam uma constância de soluções estéticas que fazem do seu trabalho uma referência na prática artística portuguesa entre os anos 70 e o final da década de 90. Tal como podemos observar nesta obra, a pintura reclama muitas vezes uma afirmação espacial ao sublinhar nos vértices dos seus ângulos os limites da tela e, nessa medida, ousa dialogar com a parede que a sustém. Ligando pela abstração geométrica e quase monocromática a sua anterior prática conceptual, o artista investe num exercício de depuração formal único, inspirado ainda pelo minimalismo e a sua estratégia de despojamento extremo, que não abdica, contudo, de uma sedutora e sensual opticalidade. [David Santos]