
Se, no contexto internacional, as revisões históricas de desacertos graves nas narrativas constituintes da arte moderna e contemporânea se têm vindo a desenvolver com particular acuidade nos últimos anos, em Portugal, esse exercício ainda tem um longo caminho a percorrer. Helena Lapas é uma das artistas que importa reconsiderar no contexto de uma recuperação, não só de carreiras consistentes, como também de uma atenção a disciplinas e técnicas tendencialmente descuradas, como é o caso da tapeçaria. Com uma exposição retrospetiva organizada em 2023 pelo Museu de Tapeçaria de Portalegre – Guy Fino, a oportunidade para esse reconhecimento está facilitada. Nela, se expõe a obra seminal A semente, de 1967, exposta na sua primeira exposição individual na Galeria do Diário de Notícias, em 1968. A semente é a representação de uma árvore da vida gestante, onde a sexualidade assume um caráter orgânico e psicadélico. Flores e frutos flutuam no plano da representação, as raízes e o topo da árvore reenviam para imagens reminiscentes do aparelho reprodutivo feminino, aqui assumindo uma dimensão telúrica, mas ao mesmo tempo evanescente. A tapeçaria, com mais de cinquenta e cinco anos, apresenta uma frescura compaginável com muitas das propostas, hoje em dia, apresentadas por jovens artistas, onde a dimensão artesanal, por um lado, e a afirmação de género, por outro, são constantes e recorrentes. [CAAC 2023]
Exposições coletivas
2024: JARRA HUMANA: Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, Museu de Arte Contemporânea de Elvas, Portugal
Bibliografia
Francisca Portugal, «HUMANO-COISA» in JARRA HUMANA: Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, outubro de 2024, cit. p. 10, rep. p. 27, 65.