
O extenso e relevante percurso artístico de Luísa Cunha justifica esta proposta de reforço da sua presença na Coleção de Arte Contemporânea do Estado, com obras que refletissem outras vertentes importantes do seu trabalho, complementando as duas instalações sonoras já existentes. Neste sentido, o vídeo Inner View e a instalação em papel Selfies #2, vêm contribuir para uma representatividade mais ampla do seu trabalho, focando-se em temas estruturais do mesmo. No vídeo Inner View, a artista retorna às questões do ato de observar e ser observado, utilizando de novo a ironia para desconstruir modelos de autoridade e de representação. A vista interior para que remete o título, confronta-se com o plano fixo da artista a observar através de uns binóculos, que remete para um observar e/ou vigiar algo exterior que está subjacente à função do gesto e do objeto. É uma obra relevante sobre um tema que tem percorrido a sua trajetória artística, a psicologia do olhar e as suas formas sociais e políticas de expressão, e que complementa a obra Dirty Mind de 1995, já existente na coleção. A obra Selfies #2 representa, em forma de instalação, um olhar, uma vez mais, irónico e disruptivo sobre os comportamentos sociais e a sua evolução. A repetição da palavra Selfies, inscrita sob a forma de padrão de papel de parede, convoca para uma prática narcísica própria da contemporaneidade, mas coloca o significado da fotografia de si mesmo num patamar interpretativo irónico, deslocando-o de uma afirmação única de identidade e de vaidade para um mero artefacto decorativo, padronizado, vulgarizado e reprodutível. [CAAC 2023]
Exposições coletivas
2024: JARRA HUMANA: Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, Museu de Arte Contemporânea de Elvas, Portugal
Bibliografia
Francisca Portugal, «HUMANO-COISA» in JARRA HUMANA: Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, outubro de 2024, cit. p. 11, rep. p. 40-41, 95.