A obra «O Bordel» de Graça Morais está em exposição permanente no Museu do Côa
A obra O Bordel de Graça Morais foi adquirida pelo Estado em 2023 e está em exposição permanente, no Auditório António Guterres, no Museu do Côa, desde 29 de fevereiro de 2024.

Figura fundamental da pintura contemporânea portuguesa, Graça Morais nasceu na aldeia de Vieiro, no distrito de Bragança, em Trás-os-Montes. Ao longo do seu percurso artístico, de mais de cinquenta anos, a artista elegeu como matérias centrais da sua arte, a ancestralidade, a ligação às raízes e à terra, bem como a continuidade entre o passado antigo, arcaico ou fundacional. Através da sua reinvenção, criou recorrentemente obras e séries de trabalhos que nos que apelam à consideração de um tempo mítico.
Nas suas representações, evoca as memórias e experiências do quotidiano vividas em contacto com a arte popular e a cultura de Trás-os-Montes, bem como cenas que nos remetem para a relação entre a esfera humana e a natural, em que o poder da metamorfose e a hibridização dos corpos, evoca o maravilhoso labirinto da realidade e da imaginação humana. Com efeito, através de ambientes povoados por configurações humanas e animais, criou inúmeras representações marcadas por uma atenção a múltiplas dimensões, sociais e antropológicas, das condições e estados da natureza humana: a guerra, a injustiça social, a condição das mulheres, a fome, a morte.
A obra da artista Graça Morais tem uma assinalável relevância no meio cultural e artístico nacional pela investigação plástica e formal desenvolvida em torno das mais ancestrais formas de arte e por uma prática de criação em superfícies de grandes dimensões. Destacamos, nomeadamente, este conjunto de seis painéis, Bordel, de 1993, criados por Graça Morais para a cenografia do espectáculo “Os Biombos”, de Jean Genet, apresentado pelo Teatro Experimental de Cascais, em 1993, no Teatro Municipal Mirita Casimiro.

Nesta composição pictórica, de grande escala, dinâmica, em tons quentes, a artista convoca um mundo de metamorfose e de transfiguração, firmemente arraigado ao vitalismo presente nas expressões rituais das culturas não ocidentais. Nela conjugam-se diferentes elementos, uma figura feminina no centro da composição, e figuras enigmáticas, mitológicas, que nos remetem para o estado de pulsão e desejos latentes. Conhecidos como “homem-bisonte”, estas figuras que sugerem a dissolução das fronteiras entre o humano e o animal, em seres compostos, constituem uma referência da arte do Paleolítico, que Graça Morais convoca nesta obra. Com efeito, a par do legado clássico da pintura (Picasso), esta é uma referência muito essencial da sua prática artística, um contributo significativo para desenvolver uma via de investigação estética marcada pela tradição e pelo impulso para a inovação e reinvenção da sua linguagem plástica.