
O cinema de Luciana Fina caracteriza-se por uma dimensão de pesquisa histórica, social e política e por uma abordagem artística neomarxista, no quadro de uma estética fortemente marcada pelo pensamento italiano semiótico e comunicacional da década de 1970. O seu olhar sobre a cultura e a realidade portuguesas tem sido regido por uma capacidade de observação, diálogo e entendimento que se revela de forma plena na obra Terceiro Andar. Partindo dos microcosmos do seu prédio, no Bairro das Colónias, em Lisboa, a artista realiza um trabalho sobre a importância da linguagem para a defesa da identidade, no interior de uma família oriunda da Guiné-Bissau. Duas gerações, mãe e filha, dialogam sobre a importância do amor e da felicidade, enquanto questionam qual o sentido cultural da linguagem na comunicação das memórias e de que forma se pode resistir à sua aculturação. Terceiro Andar constitui um importante contributo para a reflexão sobre a construção da identidade no contexto pós-colonial português. [CAAC 2022]