
Se, no contexto internacional, as revisões históricas de desacertos graves nas narrativas constituintes da arte moderna e contemporânea se têm vindo a desenvolver com particular acuidade nos últimos anos, em Portugal esse exercício ainda tem um longo caminho a percorrer. Helena Lapas é uma das artistas que importa reconsiderar no contexto de uma recuperação não só de carreiras consistentes, como também de uma atenção a disciplinas e técnicas tendencialmente descuradas, como é o caso da tapeçaria. Com uma exposição retrospetiva organizada em 2023 pelo Museu de Tapeçaria de Portalegre – Guy Fino, a oportunidade para esse reconhecimento está facilitada. Nela se expõe a obra seminal A semente, de 1967, exposta na sua primeira exposição individual na Galeria do Diário de Notícias, em 1968. Como sinal da energia coerente do percurso desta artista, a obra Red Rock, de 2018, aponta para uma dimensão escultórica do seu trabalho. Esta obra pode remeter para a sua formação inicial em cerâmica na Escola António Arroio em Lisboa, antes de se licenciar em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde foi a primeira aluna a apresentar como tese uma tapeçaria. [CAAC 2023]