
A prática de Inês Zenha abrange uma multiplicidade de suportes, tais como instalação, pintura, escultura e cerâmica, que são utilizados como parte da sua investigação e reflexão em torno das representações, tanto formais como conceptuais, do corpo queer. Um corpo sobrecarregado por valores hetero-patriarcais, um corpo que se esforça por se libertar e criar uma nova ontologia para si próprio. Partindo da compreensão, de que até os hábitos e escolhas mais íntimos são condicionados por construções sociais, Zenha tenta desconstruir o hetero-patriarcado através do uso de metáforas visuais, narrativas e formais que contrapõem a artificialidade da imposição de tais princípios com a espontaneidade daqueles puramente naturais, nomeadamente aqueles que podemos destilar a partir das relações que as plantas estabelecem entre si e com o mundo à sua volta. A obra Beware of the dogs II testemunha, de forma exemplar, o interesse da artista, tanto político como afetivo, no reino vegetal e nos modelos de vida coletiva, de emancipação e de agência, que aquele nos oferece. [CAAC 2023]