
Tudo o que diz respeito à condição feminina, em particular a inversão dos seus estereótipos, parece encontrar na pintura de Paula Rego um aliado inevitável e preciso. Entre pinturas a pastel de óleo, gravuras e desenhos, o que particulariza a sua obra é o paradoxo da imagem da mulher, da sua força intrínseca (expressa ou contida), assim como a ambígua condição imagética da pintura, entre um formalismo académico e clássico e a modernidade inventiva que a alimenta. Paula Rego confirma assim a sua estética como uma das mais ricas no que diz respeito à leitura sobre o estatuto da mulher e o seu lugar na sociedade contemporânea. Mesmo que a crítica a aproxime quase sempre da tradição figurativa da «Escola de Londres», surgida na herança de Frank Auerbach, Francis Bacon, Leon Kossoff ou Lucien Freud, o certo é que toda a obra de Paula Rego depende, no essencial, da sua experiência portuguesa, de uma infância vivida perto das mulheres que povoaram a sua vida, não necessariamente de «boas famílias». Basta olhar algumas das suas obras para, de novo, sentirmos a brutalidade implícita ou metonimicamente sugerida. É um regresso à imagem mais forte desse jogo persistente entre o bem e o mal, a razão das suas figuras, ou o modo insinuante como se questiona a sociedade patriarcal. [David Santos]
Exposições coletivas
2023: NON FINITO: Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco, Portugal
Bibliografia
Fernando J. Ribeiro, «ALIEN DREAMS» in NON FINITO: Obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, Lisboa: Imprensa Nacional–Casa da Moeda, julho de 2023, cit. p. 14 , rep. p. 24, 62.