
Etérea e próxima de uma expressividade onde a figuração humana se redescobre sempre enquanto valor de ilusão pictórica, a pintura de Ilda David recorre frequentemente à combinação de figuras arquetípicas. Ambivalentes mas ancestrais, plenas de uma dimensão presencial abstrata, essas figuras aparecem quase sempre projetadas em matéricas paisagens, assumidas ainda enquanto visões inconscientes de liberdade onírica, onde a poesia da pintura parece convocar de novo a emancipação de um gesto original, fundador da comunicação humana no mundo. Desde meados dos anos 80 e até hoje, a artista não abdicou nunca do seu exercício precioso e único de exploração estética, reinscrevendo em cada obra o valor da sua linguagem idiossincrática e a especificidade da sua obstinação. [David Santos]